Foi a partir dessa constatação que o zootecnista britânico Donald Broom construiu sua argumentação da importância de se observarem as técnicas de manejo na pecuária para ganhar mercados. “Marcar o gado com ferro quente, por exemplo, é algo que provoca muita dor e vários mercados já restringem a compra de animais que passam por esse procedimento. Suspender essa prática é algo barato e que aumenta o bem-estar do rebanho”, exemplificou ele.
O especialista, considerado o “papa do bem-estar animal”, foi um dos palestrantes da VII Jornada do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), que se encerrou na sexta-feira na sede da Farsul, em Porto Alegre. Em sua palestra, Broom destacou que é importante entender os valores do consumidor. Ele também apontou, ainda, alguns indicadores de bem-estar e as certificações que existem em relação a esse tema.
Para o pesquisador, o Brasil é um dos países mais avançados com relação à produção de conhecimento acadêmico sobre a produção pecuária e o bem-estar animal. “Aqui os produtores têm acesso à informação científica sobre o tema. Claro que não são todos, assim como não são todos os consumidores que atualmente se preocupam com as condições de produção. Mas a tendência é que isso aumente”, disse ele.
O coordenador do Nespro, médico-veterinário Júlio Barcellos, destacou que as pesquisas apresentadas durante os dois dias do evento visam a um maior equilíbrio na produção pecuária. “Buscamos tanto o equilíbrio social e econômico quanto o ambiental. Fazer com que o setor produtivo se aproprie das informações encontradas pelos pesquisadores é ainda mais importante nesse momento em que todos almejam aumento da produtividade”, explicou.
Para Barcellos, só é possível atingir o equilíbrio na pecuária com a incorporação de boas práticas de cuidado, alimentação e manejo sanitário - o que garante, também, uma carne mais saudável para o consumidor. “A preocupação na sociedade é crescente, mas esse é um conhecimento novo. Antes, esses cuidados com o bem-estar eram dirigidos somente aos animais de companhia”, observou.
Entre as técnicas apresentadas no encontro, Barcellos destacou aquelas voltadas à intensificação da produção. Segundo ele, esse é o caminho para compensar a necessidade de mais terras para a produção agrícola (que pressionam a pecuária). Com uma maior lotação, o coordenador do Nespro destaca que é necessário ampliar o uso do conhecimento e aumentar o investimento.
Já Broom ressaltou que, no processo de intensificação da pecuária, uma das principais tendências é a inclusão de outras folhas na alimentação ofertada aos animais, como de árvores e arbustos. “A intensificação provocará uma revolução nos próximos 10 ou 20 anos. Diversificar a oferta de alimento melhora as condições de produção e o bem-estar dos animais, aumenta a produtividade e a biodiversidade. Com isso, o sistema de criação será mais sustentável no futuro”, conclui.
Fonte: Página Rural