A qualidade da água é um fator decisivo na pecuária, com impactos diretos na saúde dos animais, na produtividade e na eficiência da fazenda.
No contexto das visitas realizadas durante a terceira rota do Confina Brasil, a equipe de campo da pesquisa-expedicionária teve a oportunidade de observar como uma das fazendas, a Manah, do Grupo Bocchi, em Santana do Araguaia-PA, lida com essa questão.
Neste material, abordaremos 10 fatos que todo pecuarista experiente deve conhecer sobre a qualidade da água e como essa propriedade implementa boas práticas para garantir o bem-estar e a produtividade do rebanho.
1. A água como nutriente principal
A água representa cerca de 70% do corpo dos animais e desempenha um papel crucial na regulação de temperatura, na digestão e no transporte de nutrientes e resíduos metabólicos.
Além da quantidade, a qualidade da água é essencial. Fatores como sabor, odor, temperatura e a presença de substâncias dissolvidas influenciam diretamente o consumo voluntário de água pelos animais, impactando seu desempenho e saúde.
2. Relação entre qualidade da água e saúde animal: os riscos invisíveis dos contaminantes
Água contaminada com patógenos como E. coli, Salmonella e parasitas pode causar surtos de doenças, desde infecções gastrointestinais até problemas renais.
A presença de metais pesados (como chumbo e mercúrio) e resíduos de defensivos agropecuários também representa um risco significativo, podendo levar a intoxicações crônicas que reduzem a imunidade e a capacidade de reprodução dos animais.
3. Efeito na produção de carne
O consumo adequado de água de alta qualidade é essencial para a manutenção do equilíbrio hídrico, o que influencia diretamente a ingestão de alimentos.
Quando a água está contaminada ou tem um sabor desagradável, os animais tendem a reduzir o consumo, o que diminui a ingestão de alimentos e, por consequência, a produção de leite e carne. Estudos mostram que a redução no consumo de água pode levar a uma diminuição de até 10% na produção de leite (Embrapa, 2023). Em contrapartida, no gado de corte, o ganho médio diário (GMD) de peso dos animais com acesso a bebedouros artificiais foi 29% superior ao daqueles com acesso apenas a açudes naturais (Bica et al., 2006).
4. Risco de contaminação cruzada
Em sistemas de produção intensiva, onde o confinamento é utilizado, a água pode ser um vetor importante de doenças, facilitando a disseminação de patógenos como a Leptospira e a Brucella.
O risco aumenta quando a água não é tratada ou quando há falhas no manejo hídrico, como a reutilização de água sem tratamento adequado.
5. Importância do monitoramento contínuo
Para assegurar a qualidade da água, é fundamental realizar testes regulares que avaliem parâmetros como pH, níveis de cloro residual, condutividade elétrica, presença de coliformes totais e fecais e a quantidade de sólidos dissolvidos.
A Embrapa recomenda que esses testes sejam feitos pelo menos uma vez por trimestre, ajustando as práticas de manejo conforme necessário para evitar contaminações e garantir a saúde do rebanho.
6. Impacto do pH na digestão e saúde animal: como o pH afeta o metabolismo e a saúde dos ruminantes
O pH ideal da água para consumo animal deve estar entre 6,0 e 8,5. Um pH fora desse intervalo pode prejudicar a digestão e a absorção de nutrientes, levando a distúrbios metabólicos como acidose ruminal, especialmente em ruminantes.
Água muito ácida ou alcalina pode reduzir a eficiência da conversão alimentar e, em casos extremos, causar danos à mucosa gástrica dos animais.
7. Consequências econômicas da má qualidade da água: custos diretos e indiretos
A baixa qualidade da água pode aumentar os custos com tratamentos veterinários, reduzir a eficiência alimentar e diminuir a produtividade. Além disso, doenças causadas por água contaminada podem levar à mortalidade no rebanho e a perdas significativas na receita da fazenda. Investir na qualidade da água não só previne essas perdas como também melhora a rentabilidade, ao otimizar a produção e reduzir custos com medicamentos e tratamentos.
8. Necessidade de sistemas de filtragem e tratamento
Em muitas regiões, a água disponível pode trazer contaminantes que exigem filtragem antes da utilização na pecuária.
Sistemas de filtragem com carvão ativado, filtros de areia e desinfecção com cloro ou ozônio são comumente usados para remover partículas sólidas, agentes patogênicos, e melhorar a qualidade da água.
Além disso, a instalação de sistemas de osmose reversa pode ser necessária em áreas com alto teor de salinidade.
9. Conexão com o bem-estar animal
O acesso constante à água de qualidade é fundamental para o bem-estar e a produtividade dos animais.
Além da qualidade, que envolve aspectos físico-químicos como o pH, a salinidade, e os níveis de sólidos totais dissolvidos (STD), a disponibilidade e a distribuição adequadas da água garantem que todos os animais tenham acesso suficiente, evitando situações de estresse que possam comprometer sua saúde. Um pH entre 6,5 e 8,0 é ideal, pois valores fora desse intervalo podem causar problemas como acidose ou distúrbios digestivos.
Níveis elevados de STD, acima de 4.000 ppm, podem reduzir o consumo de água e ração, enquanto a salinidade excessiva, especialmente em condições de altas temperaturas, pode ser tóxica. A presença de elementos tóxicos como chumbo, cádmio, mercúrio, além de altos níveis de ferro e sulfato, também podem impactar negativamente a ingestão de água e a saúde animal, por essa razão o tipo de bebedouro e reservatório devem ser escolhidos levando em consideração sua composição e condição de uso (Embrapa, 2023).
Portanto, a gestão cuidadosa da qualidade, disponibilidade e distribuição da água é essencial para assegurar o bem-estar dos animais, que está diretamente ligado à sua capacidade de produzir de forma eficiente.
10. Integração com práticas sustentáveis na pecuária
A gestão eficiente da água deve ser parte integrante das práticas sustentáveis na pecuária. Isso inclui a proteção de nascentes, o uso responsável de recursos hídricos e a adoção de tecnologias que minimizem o desperdício e a contaminação.
A sustentabilidade na pecuária não é apenas uma questão ambiental, mas também econômica, pois práticas sustentáveis tendem a reduzir custos e aumentar a eficiência a longo prazo.
Dica Bônus: bebedouro adequado, limpeza e vazão
Não basta garantir uma fonte de água de boa qualidade. É fundamental também contar com um bebedouro adequado.
O material do bebedouro, a frequência de limpeza e a vazão de água são aspectos importantes, especialmente em sistemas de confinamento. Muitas vezes, o manejo inadequado do bebedouro ou uma vazão insuficiente podem afetar o consumo de água, mesmo quando a fonte é de alta qualidade.
A vazão de água, por exemplo, é frequentemente mais importante do que o tamanho do bebedouro, pois garante a disponibilidade constante de água fresca para os animais. Além disso, o material do bebedouro pode influenciar desde o sabor da água até a presença de metais, impactando diretamente no consumo e no frescor e temperatura da água, o que é essencial para garantir o consumo.
Por fim, uma drenagem bem planejada, direcionando a água para fora das baias, é fundamental para evitar problemas de umidade e empoçamento no interior das baias, contribuindo para o bem-estar e o desempenho dos bovinos.