As exportações de carne bovina podem ser um grande diferencial para dos produtores brasileiros neste ano. Com a redução do consumo interno, o aumento do volume de carne embarcada ao exterior será essencial para o escoamento da produção dos pecuaristas, garantindo também um maior retorno financeiro.
Nesse cenário, o mercado de rastreabilidade pode desenvolver um importante papel, ajudando os produtores a adequarem seu sistema de produção aos padrões exigidos por exigentes mercados externos como a União Europeia, por meio da Cota Hilton, por exemplo. BOI GORDO“A rastreabilidade é uma ferramenta de organização e controle dentro de uma propriedade. Além dos benefícios diretos, como os bônus dos frigoríficos, ela te ajuda a ter um espelho de todo o seu sistema produtivo. É um caminho sem volta”, destaca Consolata Piastrella, da Piastrella Rastreabilidade Animal, uma das empresas certificadoras junto ao Sistema de Identificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov).
O sistema de rastreabilidade acompanha os animais por meio de um brinco (identificador), da origem (nascimento) até abate. Por meio dele é possível mensurar toda a dieta do animal, ganho de peso, conversão alimentar, taxa de natalidade, mortalidade entre tantos outros indicadores do rebanho. Ele foi implementado no Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em meados dos anos 2000 e provocou grandes impasses na cadeia produtiva.
“A rastreabilidade foi introduzida no Brasil de forma errada, cheia de detalhes burocráticos e padrões mal estabelecidos. O sistema não foi definido com toda a cadeia de produção. Faltou diálogo”, explica Consolata, acrescentando que a situação se agravou em 2008, com o embargo da União Europeia à carne brasileira.
Nova etapa – De acordo com a especialista, o cenário atual é completamente diferente de décadas passadas e facilita a adesão ao sistema. Os principais fatores que contribuem para isso é o fato de que as fazendas estão mais informatizadas e grande parte dos pecuaristas tem o conhecimento de que com essa estruturação ele passa a ter acesso a uma carteira maior de clientes no mercado externo.
A implementação é trabalhosa, mas pode gerar uma boa rentabilidade, principalmente aos produtores de grande porte. A adesão custa em média R$ 2 por animal e pode gerar lucro de mais de R$ 6 por arroba. “Isso é relativo e depende do tipo de sistema de produção, volume de animais abatidos por ano, localização da propriedade, bonificação do frigorífico e mercado externo em que a carne será vendida”, aponta Consolata.
O número citado acima reflete o seguinte cenário: caso o produtor alcance o bônus Europa e se enquadre na Cota Hilton – animais rastreados desde o nascimento e alimentados a pasto – ele consegue prêmio de R$ 6 por @. A bonificação pode ser ainda maior, caso o produtor faça parte de algum programa de fomento de associações de raças que exija que os animais sejam rastreados e negocie sua produção com outros mercados externos.
Passo a passo – Para implementar o sistema de rastreabilidade em sua fazenda, primeiramente o produtor deve aderir a normativa IN_17, do Mapa, e suas circulares por meio de uma empresa certificadora. Esta mesma empresa providencia o cadastro do produtor e da fazenda junto à Base Nacional de Dados (BND) do Mapa para que a propriedade seja incluída no Sisbov. Feito isso a certificadora solicita os identificadores, que devem ser colocados em 100% dos animais.
Após a brincagem é feita a vistoria por parte de um técnico da certificadora, que emite um laudo conforme o tipo da propriedade, podendo ser de criação, confinamento e mista. Em seguida é feita uma auditoria pelo próprio Mapa em conjunto com o órgão de defesa animal de cada Estado. O processo é contínuo. As fazendas de criação recebem vistorias a cada seis meses, enquanto as de confinamento e mistas são auditadas seis vezes no ano.
A certificadora também é auditada, recebendo vistorias do Mapa e União Europeia uma vez por ano sob pena de suspensão e advertências. Atualmente, o Brasil possui 25 empresas de rastreabilidade credenciadas junto ao Sisbov, sendo que apenas cinco delas (20%) estão aptas a emitir a certificação.