O ano está acabando, a cotação da reposição deu trégua, a do milho também e por outro lado as cotações do boi gordo não subiram, como a sazonalidade e a torcida do pecuarista apontavam. As incertezas são várias.
O produtor não tem controle sobre as taxas de juros nos Estados Unidos, seus efeitos sobre o câmbio, inflação brasileira e a Selic, por exemplo, pontos que influenciarão a recuperação econômica e a demanda no próximo ano.
Também não tem influência sobre a aprovação de leis na calada da noite, que afugentarão investimentos e postergarão a calmaria econômica, que parecia “menos longe” há alguns meses.
Com isto, vamos focar no que o pecuarista pode controlar, com promessas para o ano novo.
Promessa 1 - Não perder oportunidades
Agora é hora de pensar no próximo ano e nos erros deste. Neste ponto, muita gente já pensou naqueles R$17,00/@ que deixaram de ser embolsados pelo simples fato de não ter usado um contrato a termo, ou mesmo contratos futuros ou de opções.
Isto porque os contratos futuros para novembro chegaram a apontar R$167,00, enquanto quem esperou o mercado para saber o preço de venda recebeu em torno de R$150,00/@, à vista, considerando São Paulo como referência.
Em um bovino de 20@ seriam R$340,00 a mais por cabeça. Já em um lote de mil animais, teríamos R$340 mil adicionais, duas ou três belas camionetes, a depender da escolha.
Focando na atividade, considerando bois magros de R$1,93 mil, só a diferença cobriria 17,6% do custo com reposição. O presente de Natal chegou no primeiro semestre, mas poucos ficaram com ele.
Foi o segundo ano no qual quem travou as cotações teve resultados melhores do que quem ficou na torcida. Então, para o próximo ciclo este movimento é certo? De forma alguma.
No entanto, se os custos estão cobertos pelo preço que pode ser travado e este gera um retorno condizente com a expectativa do produtor, pelo menos uma parcela da boiada deve ser travada. A grande questão é que a expectativa do pecuarista quanto a preços geralmente é “vai subir mais”, ou “alta”.
Na pecuária o otimismo deve estar presente, mas este não entra na contabilidade. Se quiser adicionar linhas ao seu balanço, adicione a depreciação.
Promessa 2 – Aumentar desembolso não é perder lucro
Investir mais em pastagens ou em benfeitorias gera desembolso, que, por ser usado em mais de um ciclo de produção, deve ser considerado um investimento e adicionado ao custo via depreciação.
Com isto, o investimento será depreciado no período útil desta pastagem ou benfeitoria. Por exemplo, considere uma formação de pastagem, com um custo de R$1,5 mil por hectare. Se ela durar dez anos, cada hectare terá R$150,00 de depreciação anual.
Com a mesma pastagem, se forem feitas manutenções que aumentem a vida útil para vinte anos, a depreciação anual cai para R$75,00 por hectare. A manutenção representará desembolso, enquanto a depreciação é uma “dívida” acumulada, que será cobrada no momento da reforma deste pasto.
Da mesma forma, se incrementarmos a nutrição do rebanho, passando de uma cabeça por hectare para três, teremos uma queda na depreciação por cabeça, de R$12,50/mês (R$150,00 por hectare, divididos em doze meses), para R$4,17 por cabeça ao mês. São cem reais a menos por cabeça ao ano, o que ajuda a pagar a conta da nutrição mais elaborada.
Um incremento no uso de nutrição, dentre outras tecnologias, gera maior produção por hectare, diminuindo os custos fixos e variáveis indiretos por arroba produzida. Além disso, com mais arrobas, a receita aumenta. Mais desembolso, mais receita, mais lucro.Sempre com avaliação do retorno esperado.
Promessa 3 – Saber quanto custa a produção
Considerar um preço interessante ou não, em uma visão histórica, é razoável.
Mas preço em alta não é sinônimo de lucro e preço em baixa não significa prejuízo. A eficiência do sistema modula esta equação. Sistemas eficientes “suportam” melhor cenários adversos.
Ver uma notícia com um custo de produção abaixo do preço de venda não vai colocar dinheiro na sua conta.
Índices de custos genéricos dão uma ideia da situação, frente aos preços, mas a amplitude de resultados possíveis, segundo o sistema, é completamente capaz de quebrar uma fazenda ou dar um belo retorno.
Calcule os seus custos.
Em um parágrafo. Com as depreciações de benfeitorias, pastagem e veículos, componha os custos fixos, que não são desembolsos, mas estão lá. A eles, some os variáveis indiretos, como administrativos, e os variáveis diretos, como nutrição, reposição e sanidade. Depois pegue este custo “todo” e divida pelas arrobas produzidas no mesmo intervalo. Pronto.
A conta é fácil, difícil é a disciplina da coleta dos dados. Mas com a infinidade de problemas que são resolvidos pelo produtor no dia a dia, não é grande coisa também.
A diferença entre o custo e o preço de venda é o seu lucro, por arroba, ou no total (receita total menos custo total). Simples assim.
Considerações finais
Focar em uma produção bem feita, com custos calculados e, a partir destes, avaliar as oportunidades no mercado futuro, são ações que estão nas mãos do produtor.
Para os próximos anos a expectativa é de uma oferta crescente de boiadas e mercado mais fraco. Preços em baixa geram resultados piores, é fato.
A questão é que em fazendas eficientes, os resultados piores podem simplesmente ser lucros mais modestos, enquanto para sistemas ineficientes significam uma linha vermelha no final do balanço, que nem é feito.
Prejuízo não calculado, por falta de gestão, inviabiliza um sistema exatamente na mesma velocidade que em um DRE (Demonstrativo do Resultado do Exercício) completo.