A retomada da contribuição do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) e a possível cobrança do que deixou de ser recolhido pelos produtores rurais pessoa física nos últimos cinco anos pode representar a saída de um número expressivo de pecuaristas da atividade. A expectativa do setor é que uma solução política e jurídica seja encontrada para resolver o imbróglio que surgiu após o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar constitucional a cobrança do fundo.
Atualmente, o recolhimento de 2,1% sobre a receita bruta representa para muitos pecuaristas o lucro obtido com a produção e a incidência de mais esse encargo inviabiliza a pecuária de corte em Mato Grosso.
De acordo com o vice-presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luís Fernando Conte, não existe margem para a incidência de mais um tributo para o pecuarista, que já paga imposto de renda, dois fundos estaduais, Imposto Sobre Circulação de Mercadoria (ICMS) e impostos embutidos na folha e pagamento de funcionários.
“Ficamos por sete anos isentos desta contribuição e a margem da atividade está cada vez menor. A retomada deste imposto pode representar o fim do lucro e ninguém é obrigado a trabalhar sem retorno financeiro. Muitos pecuaristas vão deixar de produzir por falta de renda”, explica Luís Conte.
Para o produtor de Pontes e Lacerda, Túlio Roncalli, as incertezas estão deixando o setor muito preocupado porque ainda não se tem uma proposta fechada que atenda as expectativas de todos os produtores. “Até que o acórdão seja publicado, não temos uma matéria para buscar soluções políticas e jurídicas, principalmente sobre o que deixou de ser recolhido”, desabafa o pecuarista.
Terezinha Staut Costa afirma que a cobrança retroativa seria um verdadeiro caos na agropecuária e destaca que o não recolhimento do Funrural foi com base em decisão judicial e que, por isso, não cabe cobrança. “A Justiça julgou o recolhimento improcedente há sete anos. A revisão disso não contempla a cobrança do que deixou de ser recolhido”, afirma a pecuarista Terizinha Staut.
Alternativa
A Acrimat acompanha, junto ao Instituto Pensar Agro (IPA), as discussões sobre a proposta que a Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA) vai apresentar no Congresso para solucionar o futuro e o passado do Funrural. Os parlamentares que compõem a Frente avaliam uma medida provisória ou projeto de lei para regulamentar o Fundo e adequá-lo à realidade do agronegócio.
As entidades presentes no IPA também discutem um modelo alternativo de contribuição que seja acessível e simplificada ao produtor e aguarda a publicação do acórdão pelo STF para buscar as soluções jurídicas para a decisão.
Para Luís Fernando Conte, não existe uma alternativa que atenderia a todos, seria preciso dar opções para que os diferentes produtores optem pelo modelo mais adequado ao perfil de sua propriedade. “A pecuária é muito diferente da agricultura, temos menos funcionários e nossa renda é menor. Por isso defendo que haja mais de uma possibilidade para escolha do produtor”.