O plano de desinvestimentos de R$ 6 bilhões anunciado, nesta terça-feira (20), pelo Grupo JBS pode agradar os credores, mas não tranquiliza pecuaristas que fornecem para a controlada da J&F.
O plano, que ainda precisa ser aprovado pelo conselho de administração da companhia, prevê a alienação de 19,2% das ações da Vigor, de todas as ações da MoyPark e a venda de ativos da Five Rivers Cattle Feeding e de fazendas. A intenção é levantar recursos para pagar dívidas e capitalizar a gigante.
“Desta forma, a empresa manda um sinal ao mercado de que quer melhorar sua liquidez e reduzir a alavancagem, o que deve ser bem visto também pelos credores”, avalia o diretor técnico da Liberum Ratings Serviços Financeiros, Mauricio Bassi.
Ele observa, porém, que no caso da Vigor, a venda de apenas uma fatia implica no interesse de o comprador ter como sócios os irmãos Joesley e Wesley Batista, envolvidos na mais recente denúncia de corrupção no governo de Michel Temer.
“É vantajosa essa sociedade neste momento? Isso vai depender do preço dessa participação e a empresa não está em condições de barganhar”, argumento Bassi.
Do ponto de vista dos pecuaristas, o anúncio não muda o descontentamento com a decisão da empresa pagar pelo gado com prazo de 30 dias, nem alivia a possibilidade de um calote, pondera o diretor da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari.
“Essa é uma decisão operacional e não sabemos como ela irá nos afetar nem quais são suas intenções”, afirma o dirigente, acrescentando que “quem vende a prazo sabe das implicações disso. O que queremos é que o produtor tenha a opção de não fazer negócios dessa forma”.
Na visão dele, os pecuaristas são os principais prejudicados pela crise política provocada pela delação dos executivos da JBS. A cotação da arroba caiu 6% no Mato Grosso, a R$ 118 nas últimas semanas. “Os frigoríficos estão usando essa crise para pressionar os preços”.
Pequenos e médios
Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, o setor vive um momento de incerteza, que foi agravado pela crise gerada pela delação de Joesley Batista. “A empresa não deve ser a mesma depois dessa crise”, acredita. Segundo ele, a falta de confiança de consumidores e pecuaristas na companhia deve abrir espaço para os frigoríficos de pequeno e médio portes. “Para isso, as empresas vão precisar de um projeto de longo prazo amparado pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para que possam modernizar e ampliar suas instalações”, complementa.
Embora o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, tenha sinalizado a intenção de apoiar os frigoríficos para reduzir a hegemonia do JBS, Salazar explica que nada foi feito ainda e solicitou reuniões com o governo para tratar de apoio às indústrias do setor.
O diretor Estudos Econômicos da TCP Latam, Ricardo Jacomassi, estimou que o setor levará um ano e meio para se recuperar. A companhia especializada em reestruturação de empresas chegou a essa conclusão após falar com frigoríficos, pecuaristas e transportadoras, conforme entrevista à Reuters. “A empresa projeta uma arroba cotada a R$ 119,30 ao longo de 2017, queda de 22% sobre um ano antes, além de retração de 15% nos abates para 25 milhões de cabeças”.