Em um ano de incerteza quanto à recuperação do poder de compra da população, os frigoríficos brasileiros terão pela frente o desafio de ajustar a oferta de carne bovina à demanda para garantir margens mais folgadas no segundo semestre, avaliam analistas.
“Ainda não está claro qual será o ritmo e o tamanho da recuperação econômica. Neste começo de ano esperava-se retomada de renda e aumento do consumo, o que não aconteceu”, afirma Alex Lopes, da Scot Consultoria. “Essa expectativa levou frigoríficos a aumentar abates e retomar atividades em plantas, mas o consumo não cresceu na mesma medida”.
A Minerva Foods, por exemplo, aumentou em 4% os abates no País nos primeiros três meses de 2018 em relação ao mesmo período do ano anterior – para 877,5 mil cabeças – amparada por uma boa oferta de animais e uma demanda firme de exportações. Nos primeiros três meses deste ano a Minerva reportou prejuízo de R$ 114,7 milhões. “O primeiro trimestre é sempre desafiador, com menores margens e menos faturamento”, disse o presidente da empresa, Fernando Galletti de Queiroz, ontem, em conferência para apresentação de resultados com analistas.
Galletti atribuiu o resultado à variação cambial e também destacou o desafio da substituição da carne bovina e a de frango. O aumento de oferta no mercado interno, resultado de uma queda nas exportações, deixou a carne de frango mais competitiva. “A diferença (entre os preços) está no maior nível histórico”, afirma a diretora da Agrifatto, Lygia Pimentel.
Para o segundo trimestre, Galletti aposta em um resultado neutro para as operações do frigorífico no País. “Mesmo com a concorrência maior, esperamos um abate estável e uma oferta maior de animais” afirmou Galletti.
Outro desafio para os frigoríficos neste ano serão os preços do milho, que vem subindo diante na menor oferta na Argentina e da perspectiva de queda de produção no Brasil. “Não há sinais de que os preços vão cair, o que pode reduzir a oferta de animais. Os próximos 90 dias vão ser importantes para sabermos como o pecuarista vai lidar com esse aumento nos custos de engorda e quais serão os preços desse boi de final de safra.”
Para Lopes, da Scot Consultoria, este será um ano propício para os frigoríficos, mas não muito diferente de 2017. “Já a situação para 2019 é mais animadora, pois devemos ter um crescimento na demanda e uma redução de oferta de animais, devido ao aumento do abate de fêmeas em 2017 motivado pela queda de preços de bezerro no começo do ano passado”, destaca Lopes.
Exportação
Os embarques têm compensado a demanda fraca no mercado interno e não foi diferente para o Minerva. A empresa ampliou as exportações em 21% a partir do Brasil nos primeiros três meses do ano ante ano mesmo período de 2017 com forte demanda dos países asiáticos, do Chile, do Norte da África e do Oriente Médio. A empresa respondeu por 19% dos embarques no período.
Galletti destacou a perspectiva de abertura das exportações brasileiras para a Indonésia – o que ele projeta que deva ocorrer ainda no primeiro semestre – e expectativa de abertura de mercado para os Estados Unidos como um fator positivo. “Parece que não temos restrição técnica, a negociação está muito mais no nível politico. Tanto Brasil como Argentina estão trabalhando bem para isso e acredito que a abertura desse mercado pode sair rapidamente”, diz Galletti.
Em abril, porém, os embarques registraram o primeiro resultado negativo do ano, com uma queda de 4% em volume e de 5% na receita em abril segundo informações da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Foram exportadas 85 mil toneladas com receita de US$ 344,7 milhões. “Essa retração poderá afetar o desempenho da companhia no segundo trimestre, que tem um foco grande no mercado externo”, pondera Lygia.