Não só pastagens de qualidade, mas a maneira e periodicidade que a refeição é oferecida ao cavalo podem interferir no bem-estar e qualidade do animal. É o que garante a zootecnista Isabella Barbosa Silveira, professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).
Segundo a docente, os cavalos possuem hábitos herbívoros e, por essa razão, são fisiologicamente condicionados a comerem do chão. Qualquer alteração de altura na oferta da pastagem pode interferir no dia a dia do animal.
– Para uma maior qualidade de vida, os animais estabulados devem ser aproximados o máximo possível da sua natureza biológica – afirma.
A professora aponta que na natureza os cavalos comem em pequenas porções e várias vezes ao dia, ficando diariamente cerca de 15 horas em pastejo. A advertência fica para alguns criatórios em que as refeições são servidas duas vezes ao dia: essa prática pode prejudicar a saúde do cavalo.
– Para uma maior qualidade de vida, os animais estabulados devem ser aproximados, o máximo possível, da sua natureza biológica. O trato digestivo desses animais é pequeno e não comporta grandes refeições, comprometendo a questão fisiológica – diz Isabella. A cólica, por exemplo, é um dos grandes problemas oriundos dessa situação.
Na natureza os cavalos alimentavam-se de diferentes espécies de vegetais. Com isso, ingeriam dietas completas que satisfaziam todas as necessidades nutricionais sem a interferência do homem. Com o processo de domesticação as coisas mudaram. A diminuição da variedade de forrageiras acarretou mudanças nutricionais e comportamentais nos equinos, por vezes alterando a capacidade de digestão e conversão dos cavalos, dando margem ao aparecimento de doenças como a síndrome cólica, as diarreias e a anemia.
Segundo estudo orientado pelo engenheiro agrônomo e professor da Universidade Paranaense (Unipar) Paulo Cecon, o problema pode ser amenizado ao se oferecer alimentos de alta qualidade, tanto de forragens quanto de suplementação concentrada. Isso garante o crescimento saudável e uma excelente condição física dos animais. Por causa do hábito de pastoreio dos cavalos, a escolha mais apropriada é por forrageiras de crescimento rasteiro.
Além da biologia da espécie, deve-se dar também atenção especial às mudanças climáticas que ocorrem ao trocar a estação. Na região Sul, o período crítico é o inverno, devido à escassez de pastagem nativa. Por outro lado, o bioma pampa, típico da região, oferece uma grande extensão de campo nativo e natural, que se configura como vantagem em relação às outras regiões do país.
A principal diferença das pastagens naturais para os concentrados e as rações é a quantidade de fibras, destaca a professora da UFPEL. Os criadores precisam atentar para animais sensíveis e delicados em relação à alimentação.
De acordo com Cecon, características das forragens que devem ser observadas são o crecimento agressivo, a resistência ao pisoteio, o alto valor nutritivo, a baixa exigência em fertilidade do solo, a boa palatabilidade e a adaptação às condições climáticas da região.
Fonte: ABCCC