Ou o governo brasileiro está louco, ou alguma peça não se encaixa na equação da pecuária de corte brasileira. Depois de conseguir a abertura do mercado norte-americano para nossa carne bovina "in natura", a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, foi para o Japão, onde ficará até a próxima terça-feira (07). Um dos seus principais objetivos nesta missão é reabrir as portas do mercado japonês para a carne brasileira, embargada desde dezembro de 2012.
Mas por aqui a situação dos frigoríficos não é nada boa. Depois de fechar sua unidade em Amargosa (BA) e demitir 232 funcionários, o grupo JBS - Friboi anunciou na última quinta-feira (2) o fechamento da sua unidade em Cuiabá, no Mato Grosso, provocando a demissão de outros 494 funcionários. O argumento é o mesmo: está faltando matéria-prima para o abate e as atuais condições do mercado, com redução do consumo e aumento dos preços, exige uma "reengenharia" na produção.
Esta foi a segunda planta industrial paralisada pela JBS no Mato Grosso este ano. Em maio, a companhia alimentícia suspendeu os abates no município de São José dos Quatro Marcos, dispensando 650 funcionários. E em junho, a JBS também interrompeu operações em Ariquemes (RO) com o mesmo argumento do aumento na sua capacidade ociosa.
E não é só a Friboi que está fechando plantas e empregos nos frigoríficos pelo Brasil afora. No dia 1º de julho, a Minerva Foods comunicou o fechamento da sua fábrica em Batayporã (MS) e de 780 postos de trabalho. Em nota, a empresa apresentou argumentos de redução de custos e otimização da capacidade instalada para a tomada da decisão.
A crise no setor é ainda maior. Um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo em meados do mês de junho deste ano constatou o fechamento de 26 plantas frigoríficas no País, sendo 14 delas apenas no Mato Grosso do Sul, provocando naquele estado a demissão de mais de 1.500 trabalhadores. O detalhe é que o Mato Grosso do Sul possui o quinto maior rebanho do País, com 20,8 milhões de bovinos.
A explicação dada pela Scot Consultoria para os movimentos do mercado é de que o setor está sentindo dificuldade de repassar o aumento da arroba aos consumidores por conta do enfraquecimento do consumo. E o remédio seria a diminuição das compras nos frigoríficos (ou o fechamento das unidades) para regular os estoques e forçar queda do preço do boi.
O remédio é amargo, mas estaria funcionando para forçar o recuo da arroba em diversas praças e o aumento da margem da indústria, que subiu de 12,4% para 18,1% nos últimos trinta dias.
Acontece que, se as missões da ministra Kátia Abreu forem bem sucedidas e a demanda externa por carne aumentar, os preços por aqui tendem a subir ainda mais.
Até que o mercado se normalize, recuperando a produção, os preços competitivos e os postos de emprego, é bom tomar cuidado, porque a diferença entre o remédio e o veneno é a dose.
Fonte: Portal Toda Bahia, por José Lopes. Publicado em 05/07/2015