Com 152 mil hectares de área total e um rebanho de 50 mil cabeças, a Fazenda Roncador é uma referência para região do Vale do Xingu não só pelos seus números superlativos. Localizada no município de Querência (MT) a propriedade sempre buscou intensificar a produção, baseando suas atividades em uso de tecnologia e acompanhamento de resultados. Foi essa busca por melhores indicadores que levou à adoção da integração lavoura-pecuária, estratégia de produção que hoje já ocupa 8 mil hectares na fazenda.
Desde 1978 a pecuária em ciclo completo vem sendo a principal atividade da fazenda. A busca por melhorias nos resultados passou pela seleção genética do rebanho, uso da inseminação artificial, manejo e rotação de pastagens e implantação de sistemas de terminação em confinamento e semi-confinamento. Os ganhos foram crescentes, mas ainda não eram satisfatórios.
“No período das águas você conseguia ter duas ua [unidade animal] por hectare e até mais, eventualmente. Mas ficava limitado pela seca, quando você tinha que baixar para 0,7 a 0,5 ua, dependendo da condição do solo. Então, inviabilizava você ter uma pecuária com resultados mais expressivos”, relata o diretor Administrativo e Agropecuário do Grupo Roncador, Pelerson Penido Dalla Vecchia.
Foi então que, no intuito de melhorar a fertilidade de algumas áreas e diversificar a produção, em 2008 a fazenda começou a cultivar soja. A cultura era novidade na região que ainda hoje é carente de estrutura de escoamento e armazenagem. Porém, a sazonalidade da agricultura, mesmo considerando uma segunda safra de sorgo ou milheto, deixava os proprietários inquietos.
“A gente que vem da pecuária, nunca entendeu muito bem essa condição da terra ficar parada durante a seca. Então a gente fazia o que todo mundo fazia, mas a gente tinha o sorgo. Na época da seca a gente soltava o gado e media os indicadores de ganho de peso, media como isso melhorava o nosso sistema”, conta Pelerson.
Os bons resultados obtidos com o pastejo nas áreas de sorgo levaram à adoção de outra estratégia, com a sobressemeadura do capim de avião, quando a soja encontra-se em estádio R7. Após a colheita da soja, a forrageira se desenvolve por mais um a dois meses e então os animais, principalmente vacas e bezerros, são soltos na área.
Hoje, além da sobressemeadura, a integração lavoura-pecuária também ocorre em outras áreas onde após a soja é plantado milho consorciado com braquiária. Esse milho é colhido como silagem para o confinamento e o capim usado para comportar o rebanho.
No fim de setembro, com o início das chuvas, o gado é retirado das áreas de integração para formação de palhada e a soja é semeada em plantio direto, reiniciando o ciclo.
Resultados
O uso da integração lavoura-pecuária trouxe não só avanços em termos de produtividade, como também gerou maior equilíbrio dentro da propriedade.
“Melhorou o resultado da agricultura, em função da palhada que o capim deixa. Dando mais estabilidade tanto no resultado como na questão de temperatura e umidade do solo. E pra pecuária levantou o patamar de resultado. A seca ficou fácil pra pecuária depois da integração”, afirma Dalla Vecchia.
De acordo com Pelerson, a comparação da agricultura nas áreas de ILP com as áreas de cultivo exclusivo incentiva ainda mais a adoção do sistema integrado.
Para a pecuária, com a solução do problema da falta de alimento para o gado na seca, outras etapas da criação passaram a ser a preocupação.
“O problema da pecuária sempre foi a seca. Mas com a ILP ele passou a ser a transição, quando começa a chover e você tem que tirar o gado para poder fazer palhada para a soja. Tem que respeitar esse tempo para conseguir bom resultado na agricultura.”
O gado retirado das áreas de integração vai para as pastagens perenes com braquiárias. Porém, as chuvas iniciais ainda não são suficientes para rebrota do capim. Uma solução encontrada para minimizar o problema nessa transição foi a produção de feno durante o período chuvoso, quando há forragem em abundância. Esse feno é disponibilizado aos animais que saíram da ILP até que os pastos com panicum e braquiárias se recuperem, dando início ao pastejo rotacionado nos piquetes durante o verão.
Aprimorando a cada ano
Hoje a ILP já foi incorporada à estratégia da fazenda e a cada ano não só o sistema é aperfeiçoado, como todo o operacional. A forma de montar as cercas elétricas da ILP, a disponibilização de corredores para circulação de máquinas e de rebanho e a gestão de pessoas são itens que sofreram ajustes ao longo do tempo.
Pelerson chega inclusive a criar uma nova sigla para o sistema. Para ele, hoje é importante se falar em ILPP, integração lavoura-pecuária e pessoas.
“Se não tiver pessoas no final, não dá certo. Porque tem a porteira aberta, tem o gado que entra na soja, tem o gado que mistura porque o operador deixou a porteira aberta… Se você não tiver uma equalização de principio de todo mundo acreditar no que está fazendo, percebendo que é o todo que vai dar o melhor resultado para as atividades, fica difícil fazer a ILP. É muito difícil você conseguir mudar uma cultura de um cara, de um agricultor ou de um pecuarista. Pra você fazer esse encontro, essa intersecção precisa estar com um modelo muito bem desenhado, tem que sentar à mesa e conversar”, ressalta o diretor do Grupo Roncador.
“Quando existe essa conscientização e todos dão o braço, aí você tem a otimização da mão-de-obra, otimização dos equipamentos. Fora todos os benefícios técnicos das atividades, você tem os benefícios econômicos, das pessoas transitando entre as áreas e se ajudando. Você tem um número muito menor de safrista, porque você passa as pessoas da pecuária para a agricultura no momento do plantio. Da mesma forma quando acaba a colheita as pessoas da agricultura vão para pecuária pra fazer uma roçada uma pulverização, arrumar o confinamento para receber o gado. A hora em que tudo se integra fica muito positivo em todos os aspectos”, complementa Pelerson Dalla Vecchia.